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Foto do escritorVerônica Marinho

Amor e Poder

Em tempos que as pessoas se orgulham de ensinar e aprender técnicas de magia pela internet afora com a superficialidade de um pires, acho importante a gente falar da grande lição que a série Avatar (A Lenda de Aang) nos traz, e que só é dita com todas as letras no último episódio:



Mas você pode substituir essa frase pelo clássico do Homem Aranha: "com grandes poderes vêm grandes responsabilidades".

 

Independente da sua escolha, é importante a gente expor ambos os lados. Manipulações energéticas existem, são reais, potentes, eficientes. Mas devem ser usadas com muita e grande sabedoria.


Recentemente li o livro Brida de Paulo Coelho, e juntando com a série Avatar, muita coisa se conectou na minha mente - acho que mais no meu coração. Quem sabe simplesmente não conectei as duas coisas?...

 

Em Brida, conta-se que existem dois caminhos a se percorrer: a Tradição do Sol e a Tradição da Lua. Na primeira, você aprende com o mundo, seja sua rotina quão mundana for. É o que eu chamo de alquimizar a vida. Ou o que você tem a aprender com sua profissão, por exemplo. Aprender com as literalidades da vida e então trazer os ensinamentos para outros planos.

 

Um pedreiro pode aprender a importância de uma boa fundação para a casa, entendendo também que um bom relacionamento também precisa de uma boa base. Um caminhoneiro de carga pesada andando numa BR de pista única pode aprender a respeitar suas limitações, não importando o tamanho da fila de carros com motoristas mal-humorados que se forma atrás dele. Um engenheiro ambiental trabalhando com tratamento de esgoto pode aprender metaforicamente o que é transformar chumbo (esgoto) em ouro (energia), para então expandir o processo para si mesmo. E assim por diante. A vida ensina, a vida é didática, e a verdade está exposta para quem quiser enxergar.


Já na Tradição da Lua, o caminho é mais místico e oculto, envolvendo, entre outras coisas, as tais manipulações energéticas. Afinal, o masculino mantém o conhecimento, e o feminino... a transformação! Porém, como bem disse Paulo Coelho, “sabedoria é conhecer e transformar”, e “é preciso ser humilde para aprender”. A integração é sempre um excelente objetivo a se seguir.

 

Erros podem ser e serão cometidos. Não se pode ter medo, mas há de se ter responsabilidade, principalmente no que envolve uma das leis mais importantes do universo: o livre arbítrio. A vida cobra, e o erro será sempre corrigido, não importa quanto tempo leve, pois o universo é extremamente generoso, e sempre dará uma nova chance de aprendizado.


Neste livro, O Mago aprende a Tradição do Sol após ter errado com a Tradição da Lua. Manipulou de forma errada as energias, foi egoísta, se deixou levar pelo poder, pelo orgulho, pela posse. E pagou por isso. Mas a boa notícia é que ele se redimiu e se libertou. Tenho contestações a fazer quanto ao desenrolar da história, mas isso fica para um outro momento.

 

Tenho motivos para acreditar que em algum momento das minhas encarnações eu fui retirada da Tradição da Lua por ter cometido erros inadmissíveis. Estou em processo de redenção, e por isso me assusta ver certos tipos de conteúdo sendo propagados de forma tão leviana. Meu objetivo não é desencorajar ninguém a explorar, afinal, a alma necessita de experiências! E também não é meu papel julgar as práticas alheias. Apenas tento expor o outro lado, e mostrar que as coisas precisam ser feitas com mais calma, tranquilidade, estudo e responsabilidade, pois isso traria muito mais consciência para os processos, poupando muitos erros e muita dor. Além disso, se você precisa fazer magia para tudo, talvez você não esteja exatamente experimentando a matéria de um jeito tão equilibrado.

 

Hoje em dia trabalho com alquimias, com a energia das plantas e de seus óleos essenciais. Isso também é uma forma de manipulação energética. Isso também é magia, apesar de não ser solução mágica.

 

Tenho uma hipótese de que parte dos efeitos observados com as alquimias é placebo, afinal, a primeira lei hermética diz que o universo é mental. Faz sentido que as coisas se desenrolem pelo poder da mente.

 

Mas ainda não somos avatares. Precisamos de algo físico e palpável para promover nossas transformações, nem que seja na forma de gotículas minúsculas de álcool aromatizado. E apesar da forma simples que defini a alquimia, é quase impossível que ela passe desapercebida por sua vida. O impacto e as transformações provocados são imensos.

 

E aí entra o meu trabalho e compromisso com a alquimia: é preciso respeitar o processo! E, claro... o tempo.

 

Existem três fases principais na alquimia: a obra em negro (nigredo), a obra em branco (albedo) e a obra em vermelho (rubedo). Resumidamente consistem em confronto com as sombras, purificação e integração.

 

Há quem diga que o rubedo é a fase mais importante. Com o conhecimento e prática que tenho hoje, discordo veementemente. Rubedo, integração, poder... chame como quiser. Isso tudo é apenas consequência de ter vivido bem as outras duas fases. Robert Place categoriza os arcanos maiores do tarot dentro dessas fases da alquimia, e apenas o arcano dO Mundo, o último na jornada dos 21, é considerado como fazendo parte da rubedo.

 

Eu dizia que nigredo era a fase mais importante, afinal, sem o confronto com as sombras, nada pode mudar. Mas se a gente parar um pouco para refletir, confrontar as sombras não é necessariamente o mais difícil. Claro que quanto menos acelerados vivemos, mais fácil fica enxergar. E convenhamos... o ritmo de vida não quer que a gente enxergue. A vida nos leva cada vez mais para fora, quando deveria nos levar cada vez mais para dentro.

 

A questão é que a partir do momento que se coloca um pouquinho de luz sobre a sombra, não se consegue mais fugir. A gente pode até tentar, mas será um gasto de energia absurdo para tentar esconder esse nosso lado. E como Lacan: “aquilo de que o sujeito não pode falar, ele o grita por todos os poros de seu ser”. E aí então entra a purificação, ou albedo.

 

Fico nessa confusão para escolher a fase mais importante, como se realmente precisasse. Tudo no universo existe por um motivo, e se existe uma sequência a ser seguida, mesmo que infinitamente repetida, é porque todas as fases têm sua importância. Focar em apenas uma é deixar o trabalho incompleto.

 

Confrontar e purificar as sombras não é apenas perceber que se tem uma característica indesejável e saber de onde vem. Por exemplo: sou controladora porque tive uma experiência “x” na infância. Vai muito além.

 

Pela minha experiência, nigredo e albedo ficam se alternando repetidamente até que conseguimos finalmente transcender esses aspectos, integrando no rubedo. Mesmo que seja para trabalhar tudo isso novamente no futuro, com um novo grau de consciência.

 

A albedo quando mal utilizada pode te deixar gratiluz demais, no sentido de perder a consciência de classe e a noção da realidade externa. Não é esse o objetivo da alquimia, por isso hoje julgo que nigredo e albedo juntas representam o principal objetivo do meu trabalho. Enxergar e acolher a sombra, e no tempo certo a rubedo se manifestará.

 

Duas coisas movem o mundo: amor e poder. Inclusive essa é a grande diferença nas Tradições da Lua e do Sol. O que vejo cada vez que entro no #witchtok é que o poder fala cada vez mais alto. Falta humildade na gente, falta respeito ao livre arbítrio dos envolvidos.

 

Quando essa tirinha de quebra de ciclos geracionais aparece pelo feed, há sempre uma grande exaltação, celebração, esperança de que a criação dos filhos está seguindo um rumo mais harmônico, amoroso e respeitoso. Por que não podemos aplicar o princípio da correspondência e levar esse conceito para a magia? Por que é preciso devolver, quando é possível quebrar?



No final da série Avatar, antes da grande luta entre o bem e o mal, Aang se encontra em um conflito. Ele não quer matar o “malvado”. E se incomoda de lembrar suas encarnações anteriores defendendo que o que fizeram foi pelo bem do mundo.

 

Talvez por Aang ter 12 anos, chave simbólica da astrologia para representar maturidade, afinal, passou pelos 12 ensinamentos do zodíaco... ou talvez simplesmente por ter caído em si, já que passou 100 anos adormecido (outra chave simbólica) e finalmente despertou. O importante é que ele reconheceu que sempre vai existir uma ameaça, então seguindo essa lógica, sempre será preciso matar essa ameaça, num ciclo eterno sem fim.

 

Até que ele aprende com um espírito antigo que sempre há uma saída. Aang retira os poderes do “malvado” (manipulação energética), deixando-o viver, mas sem fazer mal aos outros. Equivalente ao que aconteceu com O Mago no livro Brida, que se tornou Mestre na Tradição do Sol após ter sido punido por ter errado com a Tradição da Lua. "Para dobrar a energia de outros, seu próprio espírito deve ser indobrável, ou você será corrompido e destruído."

 

E se você gosta de simbolismos, para retirar esse poder, o Avatar tocou no Ajna e no chakra Cardíaco de seu rival. Conhecimento é poder, mas sem a pureza do coração (ou da alma), esse poder pode ser muito mal utilizado.

 

O mundo está mudando, e o confronto entre luz e sombra está escancarado. Ao invés de falarmos de poder ou de amor, chegou a hora de falarmos simplesmente do poder do amor. Isso sim é rubedo. Essa sim é a verdadeira integração e a grande transformação.

 

Nunca havia me imaginado compartilhando algo desse tipo. As plantas realmente transformam a vida de quem se permite transformar.


 

Verônica é engenheira química e doutora em ciências por formação, e se descobriu alquimista de coração. Após uma grande noite escura da alma promovida por um burnout e por uma fuga de si mesma, descobriu os óleos essenciais e com isso foi impossível não se transformar. Em 2020 saiu da pesquisa acadêmica para ouvir o chamado do coração para trabalhar com as plantas. Desde então foram muitos processos internos, muito estudo, e muita aplicação de diversos conhecimentos adquiridos em diferentes áreas: filosofia, espiritualidade, aromaterapia, perfumaria ancestral, numerologia, tarot, e mais tantas outras coisas. Mais do que falar sobre alquimia e autoconhecimento, Verônica vive o processo de forma muito intensa e profunda, trazendo muita vivência e experiência reais a tudo que faz. Afinal, seu Sol em Gêmeos, tipicamente superficial, é apenas um dos aspectos de seu mapa, repleto de profundezas, intensidades e oposições. Orai e vigiai é eterno para o tanto de oposições que lhe são peculiares, mas a possibilidade de conhecer tanto os extremos lhe dá a esperança de que conseguirá chegar no caminho do meio tão sugerido pelos grandes filósofos.



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